sábado, 21 de julho de 2018

Banho de mar: uma vez que poderia ter acontecido

Não é dizer também que nunca dei pelo menos alguns passos nessa direção...

Certa vez, eu ainda bem adolescente, fui passar férias na praia e conheci um cara. Eu esperava minha família no saguão do hotel, e o cara chegou puxando papo. Ele era bem mais velho. Devia ter, calculo, quase trinta já. Eu, fora da margem da legalidade... Ele chegou elogiando a camiseta que eu estava usando, com estampa de uma banda de rock. Era carioca e queria saber do carnaval da minha cidade. Eu falei para ele que na minha cidade não tinha muito disso, que talvez ele tivesse que ir a algum clube e tal. Ele bateu papo por algum tempo, perguntou se eu ia à praia, se de repente a gente podia se encontrar. Não pus a menor maldade. Quer dizer, achei meio estranho por causa da diferença de idade, mas falei que sim, claro, a gente combinava.

Eis que, no dia seguinte, o cara simplesmente aparece de novo, na frente da minha família toda, sem camisa, o peito todo peludo, uma prancha de surfe debaixo do braço, me perguntando se eu topava ir para a praia com ele. Todo mundo trocou um olhar, e foi só aí que me dei conta de que aquilo estava meio fora da norma. Só não entendo até hoje é porque o cara deu essa pala.

Minha mãe me alertou, sem tocar no assunto diretamente, me instruiu a ficar longe dele, a não dar papo. Coitada. Estava morrendo de medo de eu ser arrombado e acabar gostando. Mas fui obediente e passei a fugir do sujeito.

Até que um dia ele me encontrou na rua. Estava com um amigo. Veio, cumprimentou. Disse que me minha mãe o havia procurado e meio que o ameaçado. Que ele tinha ficado chateado, mas que não ligava para isso não, que idade era o de menos, que para ele o que importava era a "mente". Sei. Nunca mais o vi.

Mas ao longo dos anos, claro, muitas vezes pensei no que poderia ter acontecido se aquele homem tivesse me seduzido. É claro que com meu olhar de homem maduro hoje vejo toda a problemática da situação, mas com meu olhar de gay que nunca teve a sorte de sentir um caralho gosto dentro do rabo fico pensando em como minha vida poderia ter sido diferente e eu, quem sabe, mais realizado sexualmente, se tivesse tido a oportunidade de experimentar.

Fico também pensando em como eu, jovenzinho, devia ser gostoso a ponto de atrair os olhares e o atrevimento de um macho, algo que hoje, embora eu continue gostosinho, viu, eu certamente não deixaria passar, se acontecesse. Mas, sei lá. Talvez os caras simplesmente pensem mais vezes antes de se aproximar tão ostensivamente de um homem adulto e tão convincente no seu papel de hetero.

Anos depois, em uma sala de bate papo, conversei com um cara do Rio, que me dizia que ia o posto não sei qual número, e que lá era o lugar para encontrar gays. Ele me falou que ficava cruzando o pau com outros caras, que isso era gostoso... Achei um tesão aquela conversa... Até hoje toda vez que vou ao Rio fico tentando imaginar que ponto da praia seria aquele, e o que eu teria que fazer para passar por isso... Fico pensando no meu carioca da praia, e se ele ainda se lembraria e se interessaria por mim... "Você cresceu... Está bonito... Ainda podemos tomar aquele banho de mar..."


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